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Nordeste: Um país de contrastes

As eleições de 2014 serviram como um divisor de águas para saber o quão o nosso país é preconceituoso e desprovido de qualquer tipo de raciocínio lógico e complacente com suas raízes. Me “envergonho” de ser brasileiro e de ter que ver, ouvir e sentir todo o desprezo de algumas pessoas com o nordestino.

Fomos chamados de: jegue, mortos de fome, desocupados, carentes, menos entendidos... Enfim todos os impropérios que existem no vocabulário da língua portuguesa foram proferidos para todos nós. Agora vamos fazer uma análise e um pequeno flashback de todas as ações que envolvem o Brasil.

Vamos começar pela nossa capital federal: Brasília foi construída por nordestinos, pessoas trabalhadoras, dignas e que ergueram o sonho de um país. Grandes personalidades do nordeste ajudaram a dignificar a história dessa quimera. Ariano Suassuna (Paraíba), poeta, dramaturgo e romancista, deixou como legado obras etéreas, um homem que eternizou suas palavras dizendo: “Não troco o meu “oxente” pelo “ok” de ninguém”. Chico Anysio (Ceará), humorista, ator, radialista, fez o Brasil inteiro rir com seus inúmeros personagens, além de um caráter invejável. Sarah Menezes (Piauí), judoca de fama internacional, conquistou medalha de ouro nos jogos olímpicos de Londres 2012, elevando ainda mais o esporte brasileiro em todo o mundo. Alcione – Marrom (Maranhão), cantora, instrumentista e compositora, ganhadora do prêmio Grammy Latino, sua música inebria nossas almas com a sutileza da poesia e a magia das notas. Clodoaldo Silva (Rio Grande do Norte), atleta paraolímpico, recordista de medalhas de ouro (6 medalhas, nas Olímpiadas de Atenas, Grécia – 2004), exímio exemplo de superação e humildade (uma virtude para poucos). Carlos Ayres Britto (Sergipe), ministro do Supremo Tribunal Federal, jurista, professor, magistrado e poeta, ex-presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça, destaque nacional pelo seu papel fundamental no poder judiciário brasileiro. Jorge Amado (Bahia), escritor, advogado e jornalista, um dos maiores nomes da literatura brasileira, suas obras inspiraram o cinema, a televisão e o teatro. Djavan (Alagoas), cantor, compositor, produtor musical, suas canções são pétalas macias que afagam nossos corações e tem um repertório esplendoroso. Luiz Gonzaga (Pernambuco), cantor e compositor, simplesmente um ícone, uma lenda, um dos maiores nomes da música brasileira, um brasileiro magnífico e que merece a honraria de “O Rei do Baião”.

Esses são apenas alguns nomes para citar uma “pequena” parcela de contribuição para a pouca cultura desse país, que insiste em querer ser primeiro mundo, mas que infelizmente ainda mantém pensamentos e ideias de outrora. Por favor, alguém sabe dizer o significado do ditado: “Não julgue o livro pela capa?” quando descobrirem venham visitar o Nordeste.

Estamos vivendo um tempo de xenofobia. Agora vejam vocês, o Brasil quer transpassar uma imagem de que o preconceito está sendo dizimado aos poucos, mas esbarra em contradições e falsas ilusões.

O Nordeste é conhecido por ser uma região pobre, analfabeta, seca e sem nenhum traquejo social. Esse estereótipo foi criado devido à má distribuição de renda, que por sinal não é um problema exclusivo de nossa região. O Nordeste de hoje é conhecido e reconhecido como uma fonte de oportunidades, que gera empregos e atrai investidores nacionais e internacionais, sem mencionar nossas belezas culturais que encantam a todos que chegam até aqui.

Em muitas vezes tenho vergonha de ser brasileiro, mas me orgulho de ser nordestino, é como se vivêssemos em países diferentes.

Durante décadas os nordestinos sofreram e ainda sofrem com a seca e a desigualdade social, mas por ironia, não digo do destino, mas sim incompetência daqueles governantes que se intitulam os mais preparados do país, a região Sudeste vem lastimando uma seca quase tão terrível quanto à do Nordeste.

Nossa o mundo vai acabar? Não! Calma, respirem fundo e agora reflitam e pensem um pouco sobre o que nós passamos e como nos sentimos. Vocês estão em estado de calamidade pública, a tal ponto que irão tratar água de esgoto para tentar sanar esse caos.

Não estou dizendo aqui que estou satisfeito com essa atual situação das pessoas mais “inteligentes e cultas” do país, apenas estou fazendo um desabafo pela minha gente, minha terra, meu coração. Somos nordestinos com muito orgulho e erguemos esse Brasil imenso de glórias.

Afinal, o que fizemos para merecer tamanho desprezo e crueldade em suas palavras? Cuidado, pois as atitudes e palavras um dia retornam de onde vieram. O maior exemplo está sendo mostrado não apenas no país, mas no mundo inteiro.

Não se esqueçam de uma coisa, de que podemos ser diferentes em diversos aspectos, mas quando viajamos para o exterior somos tratados todos iguais, com menosprezo e indiferença, pois para os países de “primeiro” mundo o Brasil é apenas um mendigo tentando se passar por rico.

Queridos Nordestinos, não somos melhores, nem piores que ninguém, somos apenas de uma raça diferente que incomoda muita gente e que causa revolta por estarmos nos desenvolvendo e atingindo um nível, um patamar que muitos gostariam, mas que por não conseguir, não tem outra alternativa a não ser xingar e tentar deturpar a imagem de nossa terra amada.

Espero que o Brasil possa um dia desculpar esses pobres “inocentes” que não entendem e não compreendem o porquê desse pedaço de chão está se igualando as demais regiões. Sou brasileiro, sou nordestino, sou paraibano, sou “cabra macho” sim senhor, sou filho de pessoas humildes e que nunca precisaram erguer palavras ou ações para crescer na vida. Me ensinaram que dignidade, humildade e respeito não se adquire, são virtudes que estão incluídas no caráter do ser humano.

Essas são minhas palavras de repúdio, de indignação e também de alegria e felicidade por viver e conviver com um povo tão hospitaleiro e simples, tão simples que não se dão ao trabalho de se incomodar com as palavras difamatórias, eles apenas oram e pedem que Deus abençoe a todos por que somos todos iguais.


“Não troco o meu "oxente" pelo "ok" de ninguém”

(Ariano Suassuna)

Leonardo Bezerra – Nordestino/Paraibano - Revista Novo Perfil online

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